Segundo dados do próprio exército francês, em 2005 havia cerca de 155 brasileiros na Legião, formando 2% do total de 7.699
soldados. Em 2007, o número subiu para cerca de 230 – um aumento de 50%.
A Legião Estrangeira é considerada como um corpo de elite do exército francês. É conhecida pela sua ação de guerra rápida
e eficaz.
"É uma tropa formada por jovens
estrangeiros, que na maioria passaram por dificuldades em seus países.
Nesse sentido, são
soldados mais 'durões'", disse à BBC Brasil o
tenente-coronel Christian Rascle, responsável pelo setor de comunicação.
"Além disso, oficialmente, todos são
solteiros e, portanto, é uma unidade que pode ser deslocada mais
rapidamente para missões
operacionais. E claro, o fato de serem soldados
estrangeiros profissionais também é interessante para a França do ponto
de
vista político", afirmou o tenente-coronel.
Candidatos
Qualquer homem estrangeiro pode se alistar, desde que tenha entre entre 17 a 40 anos e um documento de identidade válido.
Não é preciso nem mesmo falar francês, e o alistamento é feito em 11 escritórios em toda a França.
A cada ano, cerca de 7 mil candidatos de 150 países diferentes se alistam. Depois da pesada bateria de testes, apenas mil
são aceitos.
O Brasil é o país latino-americano com mais recrutas. Somente em 2007, cerca de 50 brasileiros foram aceitos - um em cada
20 novos recrutas. A grande maioria vem das regiões Norte e Nordeste do país.
"Os brasileiros são geralmente
considerados bons recrutas porque na maior parte são corajosos, além de
serem muito motivados",
disse Rascle. Segundo ele, o número de brasileiros que
se torna sub-oficiciais cresceu, o que demonstra um sinal de confiança
da Legião com relação à comunidade.
Os legionários brasileiros são, na
maioria, jovens entre 23 e 36 anos que prestaram o serviço militar
obrigatório ou que deixaram
as Forças Armadas para tentar uma carreira militar no
exterior.
A Legião Estrangeira não divulga números exatos porque em alguns países é proibido o alistamento de cidadãos nacionais no
exterior. Segundo o Ministério da Defesa, este não é o caso do Brasil.
Motivação
Um dos fatores que colaboraram para o aumento da procura de brasileiros foi o a avanço da internet no país.
O site oficial da Legião Estrangeira
traz explicações detalhadas sobre o alistamento em 14 línguas,
inclusive em português.
E no Orkut, rede de relacionamento pela internet, já
são mais de 20 as comunidades onde aspirantes e ex-legionários podem
trocar informações. A maior delas tem mais de 2,5 mil
membros. O mediador, Luiz Camões, diz receber em média dez e-mails por
semana.
"Os maiores incentivos para esses
jovens são a aventura, o salário superior ao do exército brasileiro, a
idéia de que vão
poder combater e a possibilidade de virar um cidadão
francês ou receber visto permanente", disse Camões à BBC Brasil.
Depois de 3 anos de serviço, os
legionários têm direito a residência na França e à nacionalidade
francesa. Outro grande incentivo
é o salário: o vencimento inicial é de cerca de 1 mil
euros (R$ 2,7 mil), podendo chegar a mais de R$ 3,7 mil no primeiro
ano. No Brasil, o soldo de um recruta é R$ 207 e o de
soldado, marinheiro ou fuzileiro naval pode chegar a R$ 741.
Mas a maior motivação para os
ex-militares brasileiros é a falta de perspectiva na carreira militar
dentro do país. Eduardo
Vidali, de 27 anos, diz que decidiu fazer a prova da
Legião Estrangeira depois de ser "botado na rua" pelo Exército
brasileiro.
"Fui voluntário. Sempre gostei das Forças Armadas. Queria usar o uniforme verde-oliva do meu país", disse Vidali à BBC Brasil.
Depois de prestar o serviço militar
obrigatório em Jundiaí, Vidali foi contratado como militar temporário e
passou a trabalhar
para o Exército. Chegou a ser promovido a cabo, mas
depois de 7 anos, de acordo com a lei, seu contrato não podia mais ser
renovado. "Depois de tudo isso foi simplesmente
'adeus, até mais'".
Já o carioca Marcelo, de 36 anos, oficial do 2º Regimento de Pára-Quedistas da Legião Estrangeira, conta que sentiu sua carreira
ser prejudicada porque a gratificação adicional de pára-quedistas foi cortada.
"Além disso, acabaram os cursos de comandos, de salto livre, então não me senti motivado a continuar lá. O salário era muito
baixo, eu sabia que ia ganhar bem mais estando do lado de fora."
Marcelo diz que preferia usar a bandeira brasileira no braço |
Ele diz que gostaria de estar
servindo o seu próprio país. "Eu prefiria estar com a bandeira do Brasil
aqui no braço, mas
infelizmente quem me deu a oportunidade de continuar a
minha carreira, de fazer o que eu gosto, foi a França. Minha missão
agora é lutar pelo Exército francês. Se o Brasil me
chamasse eu voltava, largava a Legião. Mas infelizmente isso não vai
acontecer",
disse.
Ex-legionário
Já o sargento-chefe Fausto Camilo da
Silva, de 40 anos, recém-aposentado da Legião, disse à BBC Brasil que
se sente "um pouco
francês" depois 18 anos de serviço. Apesar de sempre
ter sonhado em ser miltar brasileiro, ele abandonou a carreira por causa
do baixo salário.
Durante todos esses anos, Fausto
participou de algumas das missões mais importantes das Forças Armadas da
França. Ele integrou
a equipe responsável pelo resgate de cidadãos
franceses no Chade e em Ruanda em 1990, durante o conflito entre Tutsis e
e
Hutus; apoiou a ocupação americana à Somália em 1993; e
no Kosovo fez parte de uma missão de manutenção de paz sob a bandeira
da Otan em 2001.
Outra missão que ficou na memória foi a da Somália, quando as forças francesas foram chamadas a apoiar a ocupação americana
de 1993.
"A nossa missão era controlar o
norte do país. O trabalho era fazer patrulhas pra ver se encontrávamos
rebeldes, e daí desarmá-los.
Fomos atacados uma vez, mas sem perda de vidas. O mais
complicado era o clima, muito quente. Montamos um quartel no meio do
deserto, de onde fazíamos as missões."
Assim que se aposentou, no ano passado, ele voltou para São Paulo. Além da cidadania francesa, trouxe na mala uma aposentadoria
de 900 euros mensais, cerca de R$ 2,5 mil reais.
Recém instalado, já está em busca de trabalho em uma área muito popular entre ex-legionários do mundo todo: segurança Vip.
"Tenho experiência nessa área e um bom treinamento. Estou fazendo testes para uma empresa inglesa", conta.
Good job.
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