"É uma tropa formada por jovens estrangeiros, que
na maioria passaram por dificuldades em seus países. Nesse sentido, são
soldados mais 'durões'", disse à BBC Brasil o
tenente-coronel Christian Rascle, responsável pelo setor de comunicação.
"Além disso, oficialmente, todos são
solteiros e, portanto, é uma unidade que pode ser deslocada mais
rapidamente para missões
operacionais. E claro, o fato de serem soldados
estrangeiros profissionais também é interessante para a França do ponto
de
vista político", afirmou o tenente-coronel.
Candidatos
Qualquer homem estrangeiro pode se alistar, desde que tenha entre entre 17 a 40 anos e um documento de identidade válido.
Não é preciso nem mesmo falar francês, e o alistamento é feito em 11 escritórios em toda a França.
A cada ano, cerca de 7 mil candidatos de 150 países diferentes se alistam. Depois da pesada bateria de testes, apenas mil
são aceitos.
O Brasil é o país latino-americano com mais recrutas. Somente em 2007, cerca de 50 brasileiros foram aceitos - um em cada
20 novos recrutas. A grande maioria vem das regiões Norte e Nordeste do país.
"Os brasileiros são geralmente
considerados bons recrutas porque na maior parte são corajosos, além de
serem muito motivados",
disse Rascle. Segundo ele, o número de brasileiros que
se torna sub-oficiciais cresceu, o que demonstra um sinal de confiança
da Legião com relação à comunidade.
Os legionários brasileiros são, na
maioria, jovens entre 23 e 36 anos que prestaram o serviço militar
obrigatório ou que deixaram
as Forças Armadas para tentar uma carreira militar no
exterior.
A Legião Estrangeira não divulga números exatos porque em alguns países é proibido o alistamento de cidadãos nacionais no
exterior. Segundo o Ministério da Defesa, este não é o caso do Brasil.
Motivação
Um dos fatores que colaboraram para o aumento da procura de brasileiros foi o a avanço da internet no país.
O site oficial da Legião Estrangeira
traz explicações detalhadas sobre o alistamento em 14 línguas,
inclusive em português.
E no Orkut, rede de relacionamento pela internet, já
são mais de 20 as comunidades onde aspirantes e ex-legionários podem
trocar informações. A maior delas tem mais de 2,5 mil
membros. O mediador, Luiz Camões, diz receber em média dez e-mails por
semana.
"Os maiores incentivos para esses
jovens são a aventura, o salário superior ao do exército brasileiro, a
idéia de que vão
poder combater e a possibilidade de virar um cidadão
francês ou receber visto permanente", disse Camões à BBC Brasil.
Depois de 3 anos de serviço, os
legionários têm direito a residência na França e à nacionalidade
francesa. Outro grande incentivo
é o salário: o vencimento inicial é de cerca de 1 mil
euros (R$ 2,7 mil), podendo chegar a mais de R$ 3,7 mil no primeiro
ano. No Brasil, o soldo de um recruta é R$ 207 e o de
soldado, marinheiro ou fuzileiro naval pode chegar a R$ 741.
Mas a maior motivação para os
ex-militares brasileiros é a falta de perspectiva na carreira militar
dentro do país. Eduardo
Vidali, de 27 anos, diz que decidiu fazer a prova da
Legião Estrangeira depois de ser "botado na rua" pelo Exército
brasileiro.
"Fui voluntário. Sempre gostei das Forças Armadas. Queria usar o uniforme verde-oliva do meu país", disse Vidali à BBC Brasil.
Depois de prestar o serviço militar
obrigatório em Jundiaí, Vidali foi contratado como militar temporário e
passou a trabalhar
para o Exército. Chegou a ser promovido a cabo, mas
depois de 7 anos, de acordo com a lei, seu contrato não podia mais ser
renovado. "Depois de tudo isso foi simplesmente
'adeus, até mais'".
Já o carioca Marcelo, de 36 anos, oficial do 2º Regimento de Pára-Quedistas da Legião Estrangeira, conta que sentiu sua carreira
ser prejudicada porque a gratificação adicional de pára-quedistas foi cortada.
"Além disso, acabaram os cursos de comandos, de salto livre, então não me senti motivado a continuar lá. O salário era muito
baixo, eu sabia que ia ganhar bem mais estando do lado de fora."
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