quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Brasileiros na Legião Estrangeira.

O número de brasileiros que se alistam na Legião Estrangeira, corpo do exército francês formado apenas por estrangeiros, tem aumentado nos últimos anos. São, na maioria, ex-militares descontentes com as condições das Forças Armadas no Brasil.

"É uma tropa formada por jovens estrangeiros, que na maioria passaram por dificuldades em seus países. Nesse sentido, são soldados mais 'durões'", disse à BBC Brasil o tenente-coronel Christian Rascle, responsável pelo setor de comunicação.
"Além disso, oficialmente, todos são solteiros e, portanto, é uma unidade que pode ser deslocada mais rapidamente para missões operacionais. E claro, o fato de serem soldados estrangeiros profissionais também é interessante para a França do ponto de vista político", afirmou o tenente-coronel. 

Candidatos
Qualquer homem estrangeiro pode se alistar, desde que tenha entre entre 17 a 40 anos e um documento de identidade válido. Não é preciso nem mesmo falar francês, e o alistamento é feito em 11 escritórios em toda a França.
A cada ano, cerca de 7 mil candidatos de 150 países diferentes se alistam. Depois da pesada bateria de testes, apenas mil são aceitos.
O Brasil é o país latino-americano com mais recrutas. Somente em 2007, cerca de 50 brasileiros foram aceitos - um em cada 20 novos recrutas. A grande maioria vem das regiões Norte e Nordeste do país.
"Os brasileiros são geralmente considerados bons recrutas porque na maior parte são corajosos, além de serem muito motivados", disse Rascle. Segundo ele, o número de brasileiros que se torna sub-oficiciais cresceu, o que demonstra um sinal de confiança da Legião com relação à comunidade.
Os legionários brasileiros são, na maioria, jovens entre 23 e 36 anos que prestaram o serviço militar obrigatório ou que deixaram as Forças Armadas para tentar uma carreira militar no exterior.
A Legião Estrangeira não divulga números exatos porque em alguns países é proibido o alistamento de cidadãos nacionais no exterior. Segundo o Ministério da Defesa, este não é o caso do Brasil. 

Motivação
Um dos fatores que colaboraram para o aumento da procura de brasileiros foi o a avanço da internet no país.
O site oficial da Legião Estrangeira traz explicações detalhadas sobre o alistamento em 14 línguas, inclusive em português. E no Orkut, rede de relacionamento pela internet, já são mais de 20 as comunidades onde aspirantes e ex-legionários podem trocar informações. A maior delas tem mais de 2,5 mil membros. O mediador, Luiz Camões, diz receber em média dez e-mails por semana.
"Os maiores incentivos para esses jovens são a aventura, o salário superior ao do exército brasileiro, a idéia de que vão poder combater e a possibilidade de virar um cidadão francês ou receber visto permanente", disse Camões à BBC Brasil.
Depois de 3 anos de serviço, os legionários têm direito a residência na França e à nacionalidade francesa. Outro grande incentivo é o salário: o vencimento inicial é de cerca de 1 mil euros (R$ 2,7 mil), podendo chegar a mais de R$ 3,7 mil no primeiro ano. No Brasil, o soldo de um recruta é R$ 207 e o de soldado, marinheiro ou fuzileiro naval pode chegar a R$ 741.
Mas a maior motivação para os ex-militares brasileiros é a falta de perspectiva na carreira militar dentro do país. Eduardo Vidali, de 27 anos, diz que decidiu fazer a prova da Legião Estrangeira depois de ser "botado na rua" pelo Exército brasileiro.
"Fui voluntário. Sempre gostei das Forças Armadas. Queria usar o uniforme verde-oliva do meu país", disse Vidali à BBC Brasil.
Depois de prestar o serviço militar obrigatório em Jundiaí, Vidali foi contratado como militar temporário e passou a trabalhar para o Exército. Chegou a ser promovido a cabo, mas depois de 7 anos, de acordo com a lei, seu contrato não podia mais ser renovado. "Depois de tudo isso foi simplesmente 'adeus, até mais'".
Já o carioca Marcelo, de 36 anos, oficial do 2º Regimento de Pára-Quedistas da Legião Estrangeira, conta que sentiu sua carreira ser prejudicada porque a gratificação adicional de pára-quedistas foi cortada.
"Além disso, acabaram os cursos de comandos, de salto livre, então não me senti motivado a continuar lá. O salário era muito baixo, eu sabia que ia ganhar bem mais estando do lado de fora." 



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