A Legião Espanhola é uma força de elite do Exército de Terra
Espanhol, composta atualmente pela Brigada da Legião Rey Alfonso XIII (BRILEG),
o Tercio Gran Capitán 1º da Legião e o Tercio Duque de Alba 2º da Legião. A
BRILEG está enquadrada nas Forças Ligeiras do Exército Espanhol e é composta
pelos Tercios Don Juan de Áustria e Alejandro Farnesio, além das unidades de
Apoio ao combate e Apoio Logístico ao combate.
A Legião (La Legión), antigamente chamada Terço de
Estrangeiros (Tercio de Extranjeros), foi criada devido aos esforços pessoais
do então major de Infantaria José Millán-Astray. O resultado desfavorável às
armas espanholas nas guerras coloniais do Norte de África no início do século
XX, provocou distúrbios em Espanha. Millán-Astray chegou à conclusão de que
Espanha precisava de uma tropa de soldados profissionais, com uma moral e um
“esprit de corps”, comparáveis aos da Legião Estrangeira Francesa. A Legião foi
o resultado de este seu projeto pessoal.
História
A Legião foi criada por Decreto Real de 28 de Janeiro de
1920, sendo ministro da guerra José Villalba, com o nome de Tercio de
Extranjeros (Terço de Estrangeiros, ou Regimento de Estrangeiros). O seu objetivo
era enfrentar a dureza dos combates na guerra do Rif, em Marrocos, tal como os
franceses haviam feito, em condições para as quais as tropas de recrutamento
não estavam preparadas.
O primeiro comandante da Legião Espanhola foi o
tenente-coronel de Infantaria José Millán-Astray Terreros, que seria quem deu a
esta nova tropa seu estilo particular e criou a sua “mística”. Esta unidade
enquadrava os estrangeiros que se ofereciam como voluntários ao Exército
Espanhol, para lutar em Marrocos. A data em que se celebra a fundação da
Legião, não é a da assinatura do decreto, mas a do alistamento do primeiro
legionário, a 20 de Setembro de 1920.
Inicialmente o Tercio (regimento) compunha-se de um
Estado-Maior de comando e administração e três Banderas (batalhões), cada uma
com o seu estado-maior, duas companhias de atiradores e uma de metralhadoras. O
então major Francisco Franco foi o comandante da Primera Bandera (primeira
bandeira, ou primeiro batalhão) e adjunto de Millán-Astray.
O primeiro aquartelamento da unidade foi no quartel do Rei,
em Ceuta, e os seus primeiros comandantes foram os tenentes-coronéis
Millán-Astray, Valenzuela e Franco.
O “Tercio de Extranjeros”, que depois se chamou “Tercio de
Marruecos” (Regimento de Marrocos) e depois “Tercio”, participou na Guerra de
Marrocos, desde a sua fundação, em 1920, até ao fim da guerra, em 1927. Uma das
suas ações mais relevantes deste período ficou conhecido como o desembarque de
Alhucemas. Mais tarde, em 1934, o Tercio foi empregue para reprimir os
levantamentos contra República Espanhola na Revolta das Astúrias.
O Tercio, finalmente chamado “La Legión” (A Legião),
participa também na Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939, período no qual
alcança o máximo dos seus efetivos, com 18 batalhões de infantaria, um batalhão
de carros, um batalhão de engenharia e um grupo de operações especiais.
O Exército de África, sob o comando do tenente-coronel Juan
Yagüe, teve uma participação muito importante na Guerra Civil pelo lado
Nacionalista. O profissionalismo da Legião e das forças Regulares Indígenas, de
Marrocos, deu aos Nacionalistas de Franco uma significativa vantagem inicial
sobre as menos treinadas forças Republicanas. O Exército de África foi à
ponta-de-lança de elite das tropas Nacionalistas durante a Guerra Civil. Depois
da vitória de Franco em 1939, a Legião foi reduzida em efetivos e regressou às
suas bases no Marrocos Espanhol.
Em 1943 foram dados nomes aos três Tercios que formavam então
a Legião: o primeiro, Gran Capitán com sede em Tauima, na região de Melilla; o
segundo, Duque de Alba com sede em Riffien, na região de Ceuta; e o terceiro,
Don Juan de Áustria com sede em Krimda, na região de Larache. Em 1950 foi
criado o quarto Tercio, em Villa Sanjurjo, atual Al Hoceima, com o nome de
Alejandro Farnesio.
Em 1956 Espanha concede a independência a Marrocos, na
sequência do Acordo de Rabat, todavia mantém a sua soberania sobre os
territórios de Ifni e do Saara Espanhol. Para reforçar a guarnição aí
estacionada e enfrentar os rebeldes do Exército de Libertação de Marrocos,
chega a Ifni a I Bandera Paracaidista (1º Batalhão Paraquedista) e ao Saara
Ocidental a XIII Bandera de La Legión (13º Batalhão da Legião), formado por uma
companhia de cada Tercio que desembarcou na praia de Huisi Aotman e marchou até
El Aaiún, capital do território, a 1º de Julho de 1956.
Em 1957-1958 a Legião participa na Guerra de Ifni em defesa
dos interesses espanhóis nos territórios contra os ataques dos insurgentes
marroquinos. Em Junho de 1957 reforça-se a presença da Legião, com o 4º
batalhão a tomar posição em Villa Cisneros (atual Dakhla). Em Novembro de 1957
são atacadas as capitais dos dois territórios, Sidi Ifni e El Aiun, e
imediatamente se executam as operações de socorro às posições cercadas. O 2º
batalhão desembarca em Villa Bens, o 4º batalhão em El Aaiún e o 9º batalhão em
Villa Cisneros. As hostilidades duraram até 30 de Junho de 1958 e as tropas
espanholas, sós ou em coordenação com as forças francesas, venceram os
combates.
Na batalha de Edchera, a 13 de Janeiro de 1958, o 13º
batalhão e sofreu 20 baixas, entre elas perderam a vida o brigada (aspirante)
Francisco Fadrique Castromonte e o cavaleiro legionário Juan Maderal Oleaga,
que foram os últimos do Exército Espanhol a ser distinguida com a Cruz Laureada
de San Fernando, a mais alta condecoração militar de Espanha por valor heroico.
Findas as hostilidades, os 1º e 2º Tercios retiram, até 1961,
para os seus atuais aquartelamentos, em Melilla e em Ceuta, enquanto os 3º e
4º, com a experiência adquirida, desde 1958 passaram a formar os Tercios Saarianos
“Don Juan de Áustria” e “Alejandro Farnesio”, compostos de duas Bandeiras, um
Grupo Ligeiro de Cavalaria e uma Bateria de Artilharia Transportada. Em Junho
de 1969, Espanha entrega pacificamente Ifni a Marrocos, pelo tratado assinado em
Fez, e XIII Bandeira é dissolvida.
No início dos anos 70, os ventos da descolonização de África
chegam ao Saara Espanhol. A 20 de Maio de 1973 dá-se o primeiro ataque da
Frente Polisário, com um assalto ao posto da policia territorial do Poço de
Janquel Quesat. O aumento destas ações hostis e a ameaça de Marrocos de ocupar
o Saara Ocidental mobilizam A Legião, que não só tem que proteger a fronteira
de possíveis agressões de Marrocos, como tem que zelar pela segurança da sua
retaguarda perante as ações da Polisário.
A partir de 21 de Agosto de 1974 são enviadas unidades do 4º
Tercio para o sector norte Saara e a 18 de Dezembro trava-se o combate de
Tifariti, com a morte do sargento legionário Carazo Orellana.
O isolamento internacional em que se encontra Espanha na
resolução do conflito, para o que defende a autodeterminação dos habitantes do
território, e o delicado momento interno que vive, perante o precário estado de
saúde do seu chefe-de-estado, o Generalíssimo Franco, são aproveitados por
Marrocos para organizar a denominada “Marcha Verde”.
Cerca de 50.000 civis marroquinos estacionam frente aos
campos de minas e posições defensivas situadas 10 km para dentro da fronteira.
A situação força o governo de Madrid a estabelecer negociações que conduzem ao
acordo de entregar a administração do Saara Ocidental a Marrocos e à
Mauritânia.
Os cerca de 5.000 legionários posicionados no Saara apoiam a
complicada evacuação e, com tristeza, abandonam o território entregando os seus
magníficos aquartelamentos às forças marroquinas e mauritanas. A 27 de Novembro
a 7ª Bandera entregava Smara, a 11 de Dezembro a 8ª Bandera e o GLS I deixam
Sidi Buya, e a 9ª e 10ª Banderas abandonam o amplo aquartelamento de Villa
Cisneros a 16 do mesmo mês. Apenas permanecem os Grupos Ligeiros Saarianos, que
acabam de retirar de Villa Cisneros a 11 de Janeiro de 1976.
Em 1975, com a retirada espanhola do Saara Ocidental, o 3º
Tercio passou a constituir a guarnição da ilha de Fuerteventura, continuando o
1º e 2º em Melilla e Ceuta, respectivamente. O 4º Tercio foi dissolvido, mas em
1981 foi criado de novo, ficando de guarnição em Ronda, na província de Málaga.
Em 1995 foi criada a Brigada de La Legión Rey Alfonso XIII em Viator, na
província de Almería, nas instalações da extinta Brigada de Infantaria de
Reserva.
Nos anos 80 estava em perigo a existência da Legião.
Manteve-se até à atualidade à custa de grandes mudanças no seu modo de recruta,
no desaparecimento da sua “Escala Legionária de Oficiales y Suboficiales”, e
outras particularidades do Corpo.
Depois de 1987 a Legião deixou de aceitar o alistamento de
estrangeiros e passou a ser conhecida como Legião Espanhola. Na realidade, desde
a sua fundação, a Legião teve sempre uma minoria de estrangeiros, sendo que
grande parte deles eram latino-americanos de língua espanhola. Atualmente,
assim como nas outras unidades do exército, admite voluntários
hispano-americanos e guineenses.
Hoje em dia a Legião é uma unidade de elite de um exército
moderno e profissional, treinado para qualquer tipo de operação de combate, em
missão de paz ou em defesa da integridade e segurança nacional.
Mística Legionária
Desde as suas origens, a Legião promoveu sempre um culto no
combate e um desprezo pela importância da morte. Pretende-se com isto minimizar
o medo natural de morrer, favorecendo os atos heroicos necessários à sua missão
inicial como tropas de choque profissionais. Grande parte deste objetivo
atinge-se por um doutrinamento da tropa, que inclui a chamada “mística
legionária”, simbolizada na sua forma última no Credo Legionário.
Alguns dos seus gritos de guerra desde os seus inícios, ainda
hoje empregues, são: “¡Viva España! ¡Viva el Rey!,¡Viva La Legión!” (Viva
Espanha! Viva o Rei! Viva A Legião!), “¡A mí La Legión!” (A mim A Legião!) e
“¡Legionarios a luchar, legionarios a morir!” (Legionários à luta, legionários
à morte!).
Denominações
• Tercio de Extranjeros (Terço de Estrangeiros) 1920-1925
• Tercio de Marruecos (Terço de Marrocos) 1925
• El Tercio (O Terço) 1925-1937
Cenários onde a Legião operou
• Guerra do Rif, de 1920 a 1927.
• Defesa de Melilla, em 1921.
• Desembaque de Alhucemas, em 1925.
• Revolta das Astúrias de 1934.
• Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939.
• Guerra de Ifni, em 1957 e 1958.
• Defesa e retirada do Saara Ocidental, de 1973 a 1975.
• Missão humanitária na antiga Iugoslávia, em 1992.
• Missão de ajuda humanitária na operação “Amanhecer”, na
Albânia, em 1997.
• KFOR - Força Internacional de Segurança para o Kosovo e
Macedónia, em 1999.
• Guerra do Iraque, em 2003-2004.
• Missão internacional no Líbano integrada na UNIFIL (United
Nations Interim Forces In Lebanon) a FPNUL (Força Provisória das Nações Unidas
no Líbano) 2006-2007 e 2008.
• Missão Internacional Reconstrução do Afeganistão, no Afeganistão, ASPFOR XIX 2008.
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