Jefferson estava na base da legião, localizada na região de Kapisa, mas conseguiu entrar em contato no dia seguinte pela Internet e tranquilizou a família, dizendo que estava bem. Por e-mail, ele explicou que estava com problemas de comunicação e, por isso, não tinha ligado para a mãe. O soldado não fez nenhum comentário sobre o ataque. A exclusão desta informação pode fazer parte da estratégia adotada por ele. “Eu omito o que não é necessário que eles saibam.”
O rapaz nasceu em Dourados e se mudou para Campo Grande com a família. Depois de servir o Exército no Brasil, viajou durante um ano, até que morou no Rio de Janeiro por quatro meses. Em janeiro de 2007, aceitou o convite de um amigo e foi para a Espanha. Morou em Alicante (litoral) por dois anos, trabalhando na construção de piscinas e fazendo bico como segurança, mas não estava contente.
“A ideia de ir para a França surgiu num estalo; no dia 16 de janeiro de 2009, peguei o trem para Paris e no dia 17 já estava nos portões do Fort de Nogent, um posto de recrutamento da Legião Francesa em Paris”. Macedo recorda. “Eu não sabia falar o idioma”. Assim que se apresentou, o passaporte foi tomado. “Aí confiscaram minha bagagem e me deram um novo nome”. A partir daí, o brasileiro Jefferson Macedo se tornou Paul Floro, voluntário da Legião Estrangeira, sistema comum da companhia. O histórico do militar foi checado pelo Departamento de Inteligência da Legião e pela Interpol.
O brasileiro passou por bateria de testes físicos e psicológicos. Dois oito voluntários, apenas dois foram aceitos, entre eles, o sul-mato-grossense. “Fui enviado para treinamento em um acampamento isolado do mundo, não podíamos nem ter relógio”. Foram quatro meses de treino e de prática de francês. “O exame final é a Marche Rouge, marchamos 90 quilômetros em três dias, e os que chegam ao destino final recebem o kepi blanc, simbolo da Legião Estrangeira. Nove meses depois, conseguiu a patente de soldado de 1ª Classe e integra o 2ª regimento estrangeiro de paraquedistas, o único dentro da legião.
Emboscada
A primeira missão foi no Afeganistão, em janeiro de 2010. “Fiquei seis meses e voltei com o ombro machucado. No quinto mês, durante uma emboscada preparada pelos talibãs, fraturei o
Em 2009, o brasileiro tornou-se soldado da Legião
ombro direito ao quebrar um muro de barro e pedra pra me proteger dos
tiros. Um soldado afegão foi atingido na cabeça, e dois talibãs foram
mortos. Toda missão tem um risco, seja por tiros ou por bombas colocadas
nas estradas”, relatou Macedo.O sul-mato-grossense está na segunda missão no Afeganistão. Além dele, há outros quatro brasileiros no grupo: um paulista, dois mineiros e um gaúcho. “Tem um da Guiana Francesa que gosta de ser tratado como brasileiro”, conta.
Macedo faz parte de um grupo encarregado de missões de apoio e de tomada de posição inimiga. “Sempre estamos acompanhados pelos americanos, que nos dão apoio aéreo, e pelo exercito afegão, que legitima nossas ações quando entramos nas casas para revista”.
Os trabalhos de apoio são importantes para garantir a confiança dos afegãos. “Acompanhamos articuladores que oferecem rádios a pilha, geradores elétricos, entre outras coisas, para as pessoas das vilas e os chefes tribais; Isso não quer dizer que somos bem recebidos em todo lugar, já levei muita pedrada no capacete de crianças que nos jogam pedras quando passamos a pé pelas ruas”.
No tempo livre, o contingente tem à disposição um bar e uma pizzaria. A venda de cerveja foi limitada após a morte de um soldado, atingido acidentalmente por rajada de tiros, disparada por um colega francês. “Quando não estou em missão gosto de ler Paulo Coelho e malhar. Ganhei um livro do Sidney Sheldon da minha irmã, mas ainda não li.”
Jefferson Macedo só deve voltar para o Brasil em fevereiro de 2012, de férias, já que o contrato com a Legião acaba em janeiro de 2014. “Por enquanto, não penso em voltar ao Brasil, eu adoro meu trabalho, viajo o mundo e ainda ganho por isso. Sei que minha família sofre um pouco, mas no fundo, eles entenderam que é essa a minha vida”.
Família
A mãe, a auxiliar administrativa Elizabete Macedo,de 50 anos, disse que o "espírito aventureiro" foi herdado pelo soldado do pai, Adélio Macedo, 50 anos. “Meu marido sempre viajou muito”. Ela lembra o que o filho sempre dizia que “não nasceu para trabalhar em escritório”.
Elizabete tem noção dos riscos que o filho passa, mas entende o fato de ele omitir algumas informações. “Tem coisas que ele não me conta,tem coisas que eu especulo, tem coisas que eu prefiro não saber.” Ela disse que, mesmo após o fim do contrato, Macedo não deve retornar ao Brasil. "A saudade e a angústia são grandes, só posso orar e pedir a Deus para proteger ele”, disse a mãe do soldado.
Embarque do regimento de paraquedista para o Afeganistão.
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